Publicado em: 27/05/2020 21:54:25
Pesquisadores do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, elaboram mapas sobre a evolução da COVID-19, demonstrando como se deu o início da doença na metrópole e possíveis "facilitadores" de transmissão, como pontos de transporte aeroportuários e rodoviários (aeroporto e terminais de ônibus). Um movimento que se percebe, pelo mapa, é que, por mais que tenha surgido primeiro em áreas nobres da cidade, o coronavírus ganhou mais espaço e, consequentemente, causou mais óbitos em locais de maior vulnerabilidade.
O desenvolvimento do mapa partiu de um esforço de pesquisadores do Norte e Nordeste, com a intenção de criar um levantamento que considerasse as duas regiões. Em Fortaleza, o trabalho ficou por conta dos pesquisadores da área na UFC. A opção pelo formato de vídeo se deu para melhor representar as tendências de contaminação do coronavírus na cidade.
Na UFC, participam do projeto os laboratórios de Planejamento Urbano e Regional (LAPUR), Geoprocessamento e Cartografia Social (LABOCART) e Climatologia Geográfica e Recursos Hídricos (LCGRH), além da empresa júnior GeoMaps Consultoria, do Programa de Pós-Graduação em Geografia, com apoio do Observatório das Metrópoles do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT).
O Prof. Eustógio Wanderley Dantas, do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFC, coordenada do estudo sobre o avanço da infecção por coronavírus no município de Fortaleza e explica que uma primeira onda de contágio se deu pelo uso do transporte aéreo, com visitantes de outros locais do mundo ou os próprios moradores de bairros nobres de Fortaleza trazendo consigo o vírus após viagens. A partir daí, uma segunda onda se inicia, quando moradores de outras áreas têm contato com o vírus já de forma local e o levam a seus respectivos bairros.
"A segunda onda é a dimensão do sistema rodoviário, pautado hoje nos terminais de ônibus. Esses terminais se apresentam como lugares onde a contaminação ocorre com força, suscitando o contágio de áreas antes não afetadas", diz o pesquisador. Consequência disso é não apenas o espalhamento do vírus na cidade mas um maior índice de óbitos, por conta de fatores socioambientais específicos das áreas periféricas.
O estdudo desenvolvido relaciona o número de casos e mortes por COVID-19 a dados como vulnerabilidade social e faixa etária populacional, o que para o professor e pesquisador, "Há a constituição de um quadro de vulnerabilidade socioambiental, não da totalidade do bairro mas de parcelas, onde esse fator é elevado. São áreas pequenas, nas quais convivem famílias grandes, o que torna difícil o isolamento, e há dificuldade de acesso a serviços básicos", explica.
Outro fator, além das condições sociais, é a faixa etária da população dos bairros. "O contágio muda para um conjunto de bairros populares com percentual elevado de população com mais de 60 anos de idade, como a Barra do Ceará e o bairro Vila Velha. Na Barra, o número de mortes é superior ao número nas áreas centrais", aponta o Prof. Eustógio.
Fonte: RENNEGEO/Prof. Eustógio Wanderley Dantas, do Departamento de Geografia da UFC e-mail: edantas@ufc.br